Terra da Gente: Câmera flagra disputa entre cachorro-do-mato e mão-pelada em mata de Americana / Publicado em 10/06/2025
- PCMC Brasil
- 10 de jun.
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No interior de São Paulo, mamíferos interagem em bebedouro feito para atrais aves.
Por Fernanda Machado, Terra da Gente
Uma câmera trap instalada por um entusiasta da natureza em uma área de mata em Americana (SP) registrou uma cena incomum: um confronto vocal entre dois mamíferos silvestres – o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) e o mão-pelada (Procyon cancrivorus).
O vídeo chamou a atenção por revelar não apenas a presença de espécies de hábitos majoritariamente noturnos, mas também a complexidade de suas interações no ambiente natural.
“A ideia do bebedouro era atrair pássaros, mas começaram a aparecer muitos mamíferos também. O mão-pelada, o cachorro-do-mato...até onça já deu uma passada por lá”, conta Rodrigo Ribeiro, responsável pela instalação das armadilhas fotográficas no local.
“O cachorro-do-mato vocalizou muito, eu nem sabia que ele fazia aquele tipo de som, fiquei emocionado”, completa.
A vocalização em questão – uma espécie de rosnado prolongado – não passou despercebida pelos especialistas. Para a bióloga Júlia Souza, pesquisadora do Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado, o comportamento é um indicativo claro da disputa por território ou recursos.
“O cachorro-do-mato não está apenas tentando afastar o competidor com agressividade. Na verdade, ele está evitando o embate físico, que teria um alto custo energético”, explica Júlia.
“É um comportamento adaptativo muito interessante. Rosnar pode garantir o recurso sem que ele precise entrar numa luta direta, que poderia deixá-lo ferido”.
Segundo a pesquisadora, os dois animais compartilham o mesmo nicho ecológico. “Ambos são onívoros generalistas, ativos ao entardecer e durante a noite. Isso aumenta a chance de disputas por recursos, como alimento e água”.
Além da vocalização, a cena captada mostra o mão-pelada se afastando, mas retornando minutos depois – o que revela outro comportamento importante: a persistência da espécie.
“Ele foi expulso, mas voltou. Talvez em busca de frutas ou insetos. O ambiente ali é muito visitado por várias espécies”, detalha Rodrigo.
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